O ANDARILHO DA SERRA
Diego de Toledo Lima da Silva
Técnico/Engenheiro Ambiental, Andarilho e Cronista
E-mail: diegoaikidojoa@hotmail.com
VILAREJO
DAS PROMESSAS
A tradição local reza que todo homem de fé deve
percorrer o caminho à Aparecida pelo menos uma vez na vida, uma peregrinação
que a todo instante desafia o corpo, a mente e a própria crença.
Havia adentrado ao vilarejo no percalço de dois
ciclistas, mesmo estando a pé, dividido entre o azul do céu e da capela local.
Ao entrar na antiga construção fui recebido por mulheres e crianças da
comunidade, onde os atos de cada missa eram transmitidos pelos mais velhos aos
jovens, numa renovação para meus incrédulos olhos.
Talvez o sol do caminho já tivesse me afetado,
causando efeitos colaterais e alucinógenos, ou àquela cena era tão real quanto às
pegadas que encontrei no caminho de terra. Certo que a dupla de ciclistas já
estava bem distantes, favorecidos pelas descidas e retas sem fim do sertão
mineiro de Três Barras.
Os minutos a passar e seguia preso nos degraus do
escadão de acesso à igreja que dividia a rua principal em duas, num trecho de
continuação da estrada rural.
Todo diamante ou joia rara seria incapaz de pagar
aquele momento vivido, único e marcante. Ali, tive a certeza que o caminho
seria profundo e vivo para um espírito calejado e demasiadamente urbano.
Das muitas lágrimas que deixei na poeira da estrada,
algumas foram naquele pequeno vilarejo rural, sem ao menos imaginar que muitas
outras seriam derramadas até o destino.
Confesso, porém, que toda explicação que buscasse
iria compor o teatro dos milagres, que não se resume aos agradecimentos,
intenções, histórias e promessas dos muitos peregrinos e da gente do caminho,
mas de minha própria andança dia-a-dia por centenas de quilômetros sobre pegadas
e marcas de outros andarilhos.
Se um dia me perguntarem se Deus existe mesmo,
responderei apenas com um sinal afirmativo e uma lágrima... Ou muitas delas!
Como
citar:
DA SILVA, D.T.L. Vilarejo das promessas. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.60, p. -, out.
2016.
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