segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O ANDARILHO DA SERRA


Diego de Toledo Lima da Silva
Técnico/Engenheiro Ambiental, Andarilho e Cronista
E-mail: diegoaikidojoa@hotmail.com

VILAREJO DAS PROMESSAS

A tradição local reza que todo homem de fé deve percorrer o caminho à Aparecida pelo menos uma vez na vida, uma peregrinação que a todo instante desafia o corpo, a mente e a própria crença.
Havia adentrado ao vilarejo no percalço de dois ciclistas, mesmo estando a pé, dividido entre o azul do céu e da capela local. Ao entrar na antiga construção fui recebido por mulheres e crianças da comunidade, onde os atos de cada missa eram transmitidos pelos mais velhos aos jovens, numa renovação para meus incrédulos olhos.
Talvez o sol do caminho já tivesse me afetado, causando efeitos colaterais e alucinógenos, ou àquela cena era tão real quanto às pegadas que encontrei no caminho de terra. Certo que a dupla de ciclistas já estava bem distantes, favorecidos pelas descidas e retas sem fim do sertão mineiro de Três Barras.
Os minutos a passar e seguia preso nos degraus do escadão de acesso à igreja que dividia a rua principal em duas, num trecho de continuação da estrada rural.
Todo diamante ou joia rara seria incapaz de pagar aquele momento vivido, único e marcante. Ali, tive a certeza que o caminho seria profundo e vivo para um espírito calejado e demasiadamente urbano.
Das muitas lágrimas que deixei na poeira da estrada, algumas foram naquele pequeno vilarejo rural, sem ao menos imaginar que muitas outras seriam derramadas até o destino.
Confesso, porém, que toda explicação que buscasse iria compor o teatro dos milagres, que não se resume aos agradecimentos, intenções, histórias e promessas dos muitos peregrinos e da gente do caminho, mas de minha própria andança dia-a-dia por centenas de quilômetros sobre pegadas e marcas de outros andarilhos.
Se um dia me perguntarem se Deus existe mesmo, responderei apenas com um sinal afirmativo e uma lágrima... Ou muitas delas!



Como citar:

DA SILVA, D.T.L.  Vilarejo das promessas. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.60, p. -, out. 2016.
MEMÓRIAS

Susumu Yamaguchi
 Cronista e Andarilho
E-mail: sussayam@gmail.com

VIDA E MORTE PEREGRINA
                                                                                                  
Rumo a Ouro Fino, poeira era o que não me faltava ao deixar Andradas e seguir pela estrada de terra. Alguns carros reduziam bem a velocidade ao me avistarem, mas invariavelmente aqueles com vidros escuros não o faziam, talvez porque seus motoristas vissem que eu não os podia ver. Naquele espesso pó, rastros de pedestres e de ciclistas também perdiam sua identidade em breve tempo.
Embora uma grande placa se refira a certo Festival Enogastronômico, a grande produção da região deve ser mesmo o café a se julgar pelas enormes plantações que ocupam quase toda a área visível, até as mais improváveis encostas de serras. Pelo que ouço falar desde que cheguei a Joanópolis, lá devia ser assim antes; hoje, a pastagem ocupa a área que pertencia aos cafezais e vem sendo gradativamente substituída por eucaliptais.
Como será a visão de um peregrino do futuro ao subir lentamente a Serra dos Limas e olhar para trás, como faço neste momento? Imagino que aquele um poderia ser o Benê, um amigo habituado a fazer longas caminhadas diárias com um pesado bornal. Ele traz notícias de muitos cantos do grande mundo para pessoas da pequena cidade, que sempre as recebem com renovadas alegrias ou insólita tristeza, mas nunca com indiferença.
E imagino que ele poderia correr o olhar pelo amplo vale e lembrar-se mais uma vez de nosso amigo Moisés, com quem caminhava mais longamente em seus momentos de folga do trabalho. Tomavam o ônibus por meia hora até Piracaia e voltavam andando por mais de seis horas; e, entre outros percursos, subiam a Serra do Lopo e desciam para Extrema, almoçavam em Minas pesadamente à beira da rodovia Fernão Dias e voltavam pela estrada Entre Serras e Águas, percorrendo mais que uma maratona.
Caminharam muito, eles. Mas este Caminho da Fé não fizeram juntos, e nem o farão. E nem eu, com Moisés pelo menos. Agora sigo por sobre as pegadas que ele deixou neste trecho, guardadas debaixo de poeiras e lamas de muitas estações. E oxalá Benê passe por sobre os nossos passos, um dia qualquer em que todo o cenário aqui do alto poderá estar diferente, mas que o espírito que move nossos passos nessa serra, e em todo o caminho, seja o mesmo.



                                                            Margareth margot.joaninha@hotmail.com

No alto da Serra dos Limas, poucas casas, igreja, orelhão e bancos onde Edson e Maurício descansam e me aguardam. Um garoto louro espera em um banco a van para o último dia de aula, que está atrasada e a mãe acha que terá de levá-lo até Andradas. A outra van não o levará, passa devagar e vai embora. Nas férias ele ajudará na colheita do café, que está atrasada neste ano. Preparamo-nos para partir. A mãe chama-o para a porta de casa. Saímos da pracinha e começamos a andar. O menino parece triste. Olho para trás. O silêncio do bairro vazio também parece triste. Volto-me e sigo, devagar. Para leste, sempre.
Mais adiante, dona Natalina diz que Edgar passou em sua pousada na tarde do dia anterior e, como se sentia bem, esticou até Barra, sete quilômetros à frente. Ela mostra os cômodos que fez para acolher melhor os peregrinos. Quando são muitos, ela chama a filha e a nora para ajudar na alimentação. Habitualmente elas ficam no cafezal, mas ela mesma tem de ficar em casa para receber telefonemas e peregrinos que passam sem regularidade. Diz que tem vontade também de ir a Aparecida a pé, já até falou com uma amiga, mas tem de ter pouso no máximo com vinte e cinco quilômetros. O seu amistoso cachorro atende pelo nome de Saddam Hussein.
A visão que se tem de Barra do alto da serra é impressionante, ainda mais se sentimos dores nos joelhos. Assim como eu, Maurício começou a sentir o joelho direito um dia após a descida para Águas da Prata. Edson nada sentiu, e como não os vejo na estrada que desce para lá imagino que já tenham chegado. Agora é minha vez de descer até o pequeno bairro rural que pertence a Andradas, Jacutinga e Ouro Fino, e por isso também conhecida por Três Barras. E quem primeiro me saúda na pousada é uma alegre cachorrinha chamada Chiara.
Enquanto Edson e Maurício percorrem os três municípios da vila procurando mortadela e tubaína gelada, converso com Joelma e seu filho Kauê na pousada, onde moram também o marido João e o caçula Caio. Atendem peregrinos desde o início do Caminho da Fé, em fevereiro de 2003, primeiramente apenas com refeições no bar e alojamentos no salão paroquial. Construíram a pousada depois, e também a pequena gruta de Nossa Senhora Aparecida no quintal.
Vejo pelo livro de peregrinos que quase cinco mil pessoas já passaram por aqui, muitas apenas para carimbar a credencial, sendo cerca de setenta apenas neste mês. Folheio as páginas e encontro a assinatura de Moisés Eli Araújo, peregrino nº 1.804, em 13 de julho de 2005, há quase exatos 3 anos. Digo a ela que ele morreu em dezembro último, em acidente quando pedalava em Joanópolis.
De certa maneira, desde Tambaú vínhamos seguindo seus passos por todos os lugares que ele passou com Edson naquele ano, como ocorreu na primeira pousada em que o caminho adentra na região de montanhas, logo após Vargem Grande do Sul, onde também localizamos o seu nome. Ao saber do acontecido com Moisés, a hospedeira Cidinha Navas imediatamente escreveu ao lado: “Morreu e foi para o Céu”.
Joelma mostra uma fotografia de um casal de peregrinos em frente ao Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Vilma e Léo haviam feito o Caminho da Fé em junho de 2007, em quatorze dias. Desde novembro ele estava só, após um convívio de trinta e cinco anos. Por ela, ele peregrinou novamente em junho de 2008 e deixou ao longo do caminho uma tocante homenagem à sua memória, para os que a acolheram e também para os que não a conheceram.
Pelo pequeno povoado de São Pedro da Barra, que conta com não mais de duas a três centenas de almas, a travessia da vida prossegue incessantemente. A morte, também peregrina, às vezes demora mais de ano para passar.

Como citar:

YAMAGUCHI, S.  Vida e morte peregrina. Revista Eletrônica Bragantina On Line. Joanópolis, n.60, p.-, out. 2016.

MAPA DO CAMINHO DA FÉ



Conforme muitas ligações que temos aqui na Associação resolvemos publicar este material que auxilia na elaboração do planejamento dos peregrinos.


A um tempo atrás tínhamos o mapa no site com a Quilometragem de cada trecho. Depois de refeita a sinalização do Caminho precisamos reavaliar as distancias. Como nosso novo ainda irá pro ar logo mais, não inserimos no antigo mapa a km, por isso encaminho aqui umas tabelinhas que fizemos que pode auxiliar com a identificação de cada trecho.

DISTÂNCIA DE RAMAIS

RAMAL DE SERTÃOZINHO



Sertãozinho     -  Dumont
16km
Dumont    -   Cravinhos
37km

Cravinhos      - São Simão
31km

São Simão    -   Santa Rosa do Viterbo
27km

Santa Rosa do Viterbo    -   Tambaú
36km


RAMAL DE SÃO CARLOS


São Carlos   -  Descalvado
44km

Descalvado   -   Porto Ferreira
18km

Porto Ferreira  - Santa Rita do Passa Quatro
22km

Santa Rita do Passa Quatro    -   Tambaú
28km


TRECHO COMUM AOS DOIS RAMAIS ANTERIORES

TAMBAÚ – ÁGUAS DA PRATA


Tambaú     -  Casa Branca
30km

Casa Branca    -     Itobi
16km

Itobi     -    Vargem Grande do Sul
15km

Vargem Grande do Sul  - São Roque da Fartura
29km

São Roque da Fartura     -  Águas da Prata
16km


RAMAL:

MOCOCA – ÁGUAS DA PRATA


Mococa    -   São José do Rio Pardo
21km

São José do Rio Pardo  - São Sebastião da Grama
26km

São Sebastião da Grama   - São Roque da Fartura
27km

São Roque da Fartura    - Águas da Prata
16km


RAMAL:

DIVINOLÂNDIA – ÁGUAS DA PRATA


Divinolândia      - São Roque da Fartura
34km

São Roque da Fartura      - Águas da Prata
16km


RAMAL: AGUAÍ – ÁGUAS DA PRATA


Aguaí     - São João da Boa Vista
25km

São João da Boa Vista      - Águas da Prata
21km




 RAMAL ÚNICO:

ÁGUAS DA PRATA – APARECIDA


Águas da Prata     -  Andradas
30km

Andradas    - Serra dos Limas
16km

Serra dos Limas      -   Crisólia
20km

Crisólia      -   Ouro Fino
6km

Ouro Fino      -   Inconfidentes
10km

Inconfidentes      -  Borda da Mata
20km

Borda da Mata     -    Tocos do Moji
18km

Tocos do Moji     -    Estiva
22km

Estiva      -   Consolação
19km

Consolação       - Paraisópolis
21km

Paraisópolis   -    Canta Galo
18km

Canta Galo     -   Luminosa
7km

Luminosa     -    Campista
21km

Campista      -   Campos do Jordão
14km

Campos do Jordão      - Piracuama
24km

Piracuama       - Distrito de Mandu
10km

Distrito de Mandu   -Ribeirão Grande
18km

Ribeirão Grande   -      Aparecida
24km


·        As cidades destacadas na cor azul, há ponto de emissão de credencial.